Novo juiz da Lava Jato afirma que R$ 3 bilhões recuperados na operação é valor baixo comparado ao faturamento das empresas investigadas


Valor citado por Eduardo Appio foi recuperado por meio de acordos de colaboração premiada e de leniência. Para ele, ‘resultado não foi bom’. ‘É o momento de passar a limpo tudo o que aconteceu, diz juiz da Lava Jato sobre investigação de grampo na cela de Youssef
O juiz Eduardo Appio, da 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná, berço da Lava Jato, afirmou que os valores devolvidos aos cofres públicos ao longo de nove anos de operação foram baixos quando comparados com o faturamento das companhias investigadas.
No período, cerca de R$ 3 bilhões foram recuperados, conforme o juiz.
“Eu chego a conclusão de que o resultado não foi bom. Os valores recuperados foram, comparativamente ao faturamento das empresas, valores muito baixos.”
“A Lava Jato arrecadou cerca de R$ 3 bilhões ao longo de 9 anos. Se nós pegarmos uma empresa da dimensão da Odebrecht, da Camargo Corrêa ou da Braskem, nós vamos ver que R$ 3 bilhões é um valor muito baixo para uma empresa que na época empregava 230 mil pessoas ao redor do mundo”, disse o juiz.
A fala foi feita nesta segunda-feira (22) durante entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews. Appio está no comando da 13ª Vara Federal desde o início de fevereiro deste ano.
O valor citado por Appio foi recuperado por meio de acordos de colaboração premiada e de leniência, celebrados com pessoas físicas e jurídicas, além da repatriação de valores decorrentes de renúncia voluntária. Até 2018, o empresário Marcelo Odebrecht, por exemplo, havia devolvido R$ 143 milhões.
Parte do dinheiro foi encaminhado para a Petrobras, outra parte para a União.
Ilegalidades
Montagem Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa
Lúcio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados e Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo
Durante a entrevista, o juiz mencionou que há indícios de ilegalidades na utilização um grampo ambiente na cela em que Alberto Youssef ficou preso. Leia mais abaixo.
O juiz também citou uma situação envolvendo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, quando ele foi preso em março de 2014, considerando que houve irregularidades na prisão.
Segundo Appio, na ocasião, Costa passou 48 horas privado de banho e banho de sol, o que pode ser caracterizado como tortura.
“A minha visão sobre o processo é uma visão garantista. Nós não podemos torturar, prender e submeter um acusado a confessar um crime, mesmo em crimes graves. […] Países democráticos não permitem tortura de presos para obtenção de confissão. Essa tortura não deve se dar de forma direta, nem mesmo indireta.”
“Privar de banho de sol e de banho, é uma forma de tortura. Manter o preso alguns anos preso em caráter preventivo, sem data para sair a não ser que ele confesse, é uma forma clara de tortura, sem dúvida nenhuma”, ponderou.
O juiz classificou também que o momento da operação é de reflexão e que busca “recuperar a dignidade” da 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná.
Grampo na cela de Alberto Youssef
Alberto Youssef
Reprodução/RPC
Appio afirmou nesta segunda-feira (22) que encaminhou para a Polícia Federal (PF) em Curitiba uma sugestão de abertura de um novo inquérito para investigar a descoberta de um grampo ambiente na cela em que Alberto Youssef ficou preso. O equipamento foi encontrado há nove anos.
A denúncia da existência do equipamento aconteceu em 2014, quando Youssef estava preso na carceragem da PF em Curitiba. O grampo teria ficado ativo entre 17 de março, quando o doleiro foi preso, e 29 de março de 2014, até ser descoberto por ele.
À época, a PF alegou que a escuta era antiga, ainda do momento da prisão do traficante Fernandinho Beira Mar e estava desativada. Contudo, Appio afirmou que o equipamento encontrado por Youssef era outro e com outra numeração de série.
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De acordo com Appio, na ocasião, o advogado do doleiro representou na Justiça, e o então juiz da operação e atual senador pelo Paraná, Sergio Moro (União-PR), encaminhou a denúncia à Polícia Federal.
Appio afirmou que os advogados questionaram Moro se ele havia autorizado a instalação do equipamento e, segundo o juiz, Moro respondeu negativamente.
Houve uma sindicância na Corregedoria da Polícia Federal em Brasília sobre o caso; agentes foram denunciados, viraram réus e foram absolvidos pela Justiça Federal, conforme relatado por Appio.
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